SINTO PARTIR...
Quando parte o amor,
Qual parte do meu Ser
Sinto partir?
Poderia dizer que parte
O coração sob a alegação
Que faz mais parte do Ser,
Com suas metáforas transcendentais,
Que do próprio corpo,
Mas sinto algo mais importante partir
– nunca te deixes enganar
pelo som ensurdecedor
e assustador do cristal partindo!
Sinto partir a razão
Em pedaços pequenos,
E tão pequena
– com seu “ser ou não ser” –
Parece diante do Ser!
Sinto partir a doçura dos pomares
E o prazer das vinhas!
Sinto partir a beleza da primavera
E a esperança do alvorecer!
Assim, entregue à confusão
De um corpo desconectado do mundo,
De sua essência, de seu âmago,
Desalmado e sem razão de ser,
Sinto partir a loucura que acomete o coração
E a loucura que acomete a mente,
Ficando apenas a loucura do vazio,
Do nada, de sentir não ser,
De sentir nada, sentir-se nada,
Que leva à loucura da morte auto-infligida
Como ocorreu ao jovem Werther
Em meio aos seus insuportáveis sofrimentos!
Mas ao partir minha vida,
Sinto algo mais partir
Antes de senti-la partir de meu corpo:
Parte dos cílios aos lábios
Uma lágrima de desalento,
E sinto na boca fragmentos
De cristais de desilusão
E desesperança diluídos
– sal amargo, conhecido
por todos como desamor!
Julia Lopez
07/11/2023
Nota sobre a foto: estátua do cemitério de Ohlsdorf (Alemanha), em foto tirada pela fotógrafa alemã Andrea Deckers em 2012.
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