NOITES DE SÔNIA
Sônia avessa ao sono!
Sônia, amante provocante;
Tão provocante quanto pode ser
Uma pessoa indesejada e irritante!
Seduz de forma insistente,
Assedia, é obsessiva;
Em teu leito se atira
E o obriga a em seus braços e pernas
Passar a noite inteira com ela!
Descarada e abusada,
Tua cama invade
Mesmo que já tenhas companhia,
Ignorando-a enquanto satisfaz
As necessidades de seu instinto voraz!
Tem aquele toque invertido
Que contraproducentes torna
As ações de seus intentos!
Por isso é a química de Sônia
Enganosa, ilusória;
E quando ansiamos que entorpecentes
Sejam seus lábios,
Produzem “beijos de ecstasy”,
Eufóricos à exaustão, estimulantes,
Deixando-nos com a boca sedenta
Nessa química ilegal
– deveria ser, ao menos!
É envolvente:
Deixa-te rolando
De um lado a outro,
Enroscando-se
Na roupa de cama
Que veste o corpo nu
Em desconfortável sudorese!
Tem um abraço
Apertado e provocante,
Daqueles que não produzem
Excitação, nem paz:
Provoca inquietação, agitação;
É causa de ansiedade!
Sobre ti passa as horas
Sem dar os prazeres:
Inerte, seu peso pressiona
Tuas carnes contra o leito
E faz doerem as juntas,
Ao ponto de te expulsar do mesmo!
Não sabe
Mordiscar aprazível,
Apenas remoer,
Ruminar cruel e asquerosa!
Estranhamente,
Sabe ser atraente sem ser bela,
E mesmo indesejada e evitada,
Irresistível acaba sendo,
Ainda que jamais requisitada!
Seus olhos são estranhos:
Tem a cor da escuridão do quarto,
O brilho do lustre à luz da Lua
E a quadrilateral forma do teto!
Suas unhas compridas
Não arranham prazerosas,
Mas coçam a cabeça
E cutucam as feridas!
Desconcertado observo
O poder e o fascínio
Que sobre nós exerce!
Sônia não é sonora como gostaríamos,
Com doces palavras apaixonantes
Ou cálidas palavras obscenas,
Com sons de deleite,
Sejam sussurros ou gritos;
Apenas ouvimos na cabeça
O quanto fala alto e o quanto berra!
É uma amante egoísta, cruel,
Insaciável e insensível!
Falsa, finge se importar
Ao tagarelar nossos problemas,
Mas apenas o faz
Para nos manter acordados,
Com a atenção toda para ela!
É uma amante russa paradoxal:
Em seu nome carrega a sabedoria
Dos filósofos gregos antigos,
Mas tua mente pré-ocupa
Com teus problemas mundanos
– não tem nada de Sofia,
apenas sofismas!
Com Sônia
Passamos a noite em claro
Em quarto escuro
Sem nunca nos levar ao menos
Ao clímax dos enredos
Que na cama desnovelamos,
Tornando-se nosso anticlímax
Poético e onírico:
Quando o Sol se levanta,
As pálpebras finalmente se deitam;
E ainda que seja cedo,
É tarde demais para – enfim –
Repousar em seu seio!
Quisera sua língua provar em latim
Para poder dizer, ao fim,
Que passo noites de prazer “in Sonia”,
Para senti-la sonífera, “Somnia”;
Mas apenas posso dizer
Que ao passar as noites com Sônia,
Esta rouba o sono para si e me possui,
Toma posse das noites, agora suas:
Noites de INSÔNIA!
Julia Lopez
22/12/2017
Nota sobre a foto: “Nerve”, de Christine Wu (2013).