ESCREVENDO BELAS ARTES!
QUILATES DE UM PASSADO RECENTE
Sobre o balcão extenuado,
O ar velho respirando de uma história
Por cada relíquia à minha volta contada,
As mãos à fronte levo e não mais sinto
Do metal o toque frio que à pele acariciava!
Sem pensar – tomado pelo hábito –
A mirar um dedo em especial me ponho,
E uma leve depressão na pele vejo
– marca alva que alvo de ingênuas
esperanças e sonhos um dia foi
junto à flecha de um deus grego!
Um áureo pacto, uma aliança,
Marcas profundas podem deixar
– não pensei que tão pequena marca
o poder mágico pudesse possuir
de tamanha dor e sofrimento invocar!
Do ouro já não lembra mais o dedo,
Mas persiste a malfadada marca
Como uma sombra,
Do passado um fantasma,
Um espírito obsessivo, um feitiço
– uma terrível maldição!
Símbolo da eterna aliança para mim,
Para ela um belo grilhão dourado!
Ouro 24K para mim, para ela nem 9K
– na verdade, pirita o considerava!
Com o amor em quilates pesado,
Seu seio adornei com um colar raro,
Por gotas de água-marinha formado,
Como símbolo de felicidade,
Fidelidade e amor verdadeiro,
Mas quando ao frio mármore o atirou,
Como lágrimas pelo nobre antiquário
a se espalharem dolorosamente o senti!
Imerso na dor que escorre e inunda,
A neve caindo senti como cristais
Que de seu gélido coração saiam!
Para que a dor cessasse
E para meu coração conservar,
Ansiei congelar,
Mas percebi que o sal da água marinha
O congelamento retardava;
E enquanto os olhos marejassem,
O mar não secaria!
O pranto contive
E a evaporação da água esperei
Para meu sal com doçura soprar,
Mas alguns de seus cristais
Protegidos permaneceram no interior
Da delicada e tentadora ostra,
O sabor realçando-lhe,
Provocando-me,
A acrescentar gotas de limão convidando-me
Para sua degustação,
Calcificando e origem dando
À pérola desse Poema
– amor e desejos
que de inspiração e adorno
ainda vivem malfazejos!
Prenuncia essa margarita poética
Um perfumado ramalhete de margaridas
E uma volta comemorada com margarita
Em um cristalino som de um brinde?
Tudo “acabará em pizza” – de margherita?
Ao mármore lanço as taças e as flores,
As margaritas, as guloseimas e a ostra:
Dispenso seus prazeres efêmeros;
Dispenso seus falsos adornos;
Dispenso seus falsos amores!
Limparei o sal das feridas abertas no peito
– secarei as salmouras!
Aliviarei minha dor e conservarei
Meu coração no cruel desprezo
Cristalizado que cai e acumula
– no gelo do seu desamor!
O ARTESANATO DA JOIA
Às vezes sinto minha preciosa vida
Tão emaranhada quanto uma joia
Em filigrana etrusca,
E isso de falácia não se trata,
E de insignificâncias não trato;
Mas por vezes enroscada a vejo
Em pontos pequenos e anódinos
Ao longo do fio da vida que me pertence
– arte grega de uma deusa fiandeira,
tão pérfida quanto a fiandeira viúva-negra!
Recorri ao Divino Designer e Artesão,
Que pela antiga fundição do melhor ouro
Pôde trabalhar à mão o lingote puro,
Cinzelando minha forma cuidadosamente
E cravejando as gemas de minhas virtudes
Perfeitamente lapidadas em brilhante coração
E brilhante radiante – meu caráter
jamais perdeu a translucidez diamantina,
mas ao longo da vida as gemas danifiquei,
e na restauração de sua lapidação
intensamente me dediquei!
Ao ser por Ele atendido,
A artesã e fiandeira vi tecendo
O fio de ouro da minha vida
– com o qual fabrica a joia dos meus dias –
De um modo distinto,
Ornando-o com gemas condizentes
Com o design original e nobreza da joia,
Pois fui cinzelado ao estilo barroco,
E não apenas como um adorno
Para a vaidade feminina
Da breve Belle Époque!
Com Ágata,
Vivo, protegido, poderoso
E afortunado me senti,
Mas desenvolver mais
Que uma agradável e profunda amizade
Por ela não consegui!
Com Esmeralda,
Jovem e amado
Incondicionalmente me senti,
Mas o fervilhante amor caribenho
Não fui capaz de retribuir!
Pela alegria e felicidade da bela,
Pequena e delicada Morganita,
Enfeitiçado fui, mas seu amor
De fogo-fátuo se tratava,
E de miragem malaguenha
– em língua italiana
com sotaque Inglês –
Tudo não passava!
Uma paixão intensa
Com a cálida e irresistível Rubi vivi,
Mas seu brilho espanhol não bastou
Para elevar as chamas da carne
À luz do espírito!
A lituana Amber,
Tão elétrica e quente,
Acelerava meu coração e o reanimava
– as vezes em arritmia!
Quando perto de minha pele a sentia,
Um frêmito percorria meu corpo
Que arrepiava com a eletrostática,
E o calor sentia quando encostava!
Era uma paixão muito perigosa,
Em alta voltagem,
Mas teria sido um amor seguro,
Pois o preservaria fossilizado
Para sempre no seio
– uma combinação perfeita,
mas não tive a sorte de amá-la!
As onze virtudes de Jade conheci
E com ela perfeita a vida seria,
Mas sem amor não há perfeição
– não pude penetrar sua obduração!
A uma preclara dama árabe
Me entreguei inteiramente fascinado
Por seus safíricos olhos delineados
Com a elegância do lápis-lazúli,
Mas apesar de todo o seu amor,
Percebi que apenas sua rutilância
E seu véu de mistérios me encantavam!
Por fim, meu amor refletido vi
– a senti-lo voltei – na singeleza
Do ônix dos olhos de uma santa
Mulher de um passado distante,
E com ela protegido estarei
Dos sortilégios da divina fiandeira
E de sua terrível serviçal:
Uma pedra barata e em estado bruto,
Do fio da vida já retirada
– sombra sinistra de um passado sofrido!
Gemas nobres que passam
Pelo fio de ouro da vida:
A joia perfeita para adornar
A alma e a fortuna alcançar!
ANTIQUÁRIO DA ALMA
Sinto-me velho, antigo;
Como se a história do mundo
Pesasse sobre a alma!
Meu coração se parece
A uma peça de antiguidade
– altamente colecionável –
E minha alma a um grande
E luxuoso antiquário!
Não tenho um coração
Velho ou enferrujado,
Mas um coração antigo
E em excelente estado
De conservação,
Com uma bela pátina
Que o valoriza!
É único, muito raro
E perdido estava,
Então só à colecionadora
Certa o entregarei,
Para que seu seio decore
Qual esplêndido pingente
– a uma mulher que coleciona corações
ou a uma vil negociante de antiguidades
não o entregarei!
Uma colecionadora de virtudes
Como sinceridade, fidelidade
E honestidade busco,
Pois terá em meu coração
A pureza que ornará
Com esses sagrados itens de coleção
– ou o relicário ideal que os guardará!
Um valor monetário não posso
Pensar para essa antiga peça,
Mas se a pensar em moedas me ponho,
Como um antigo dobrão de ouro
Em “Flor de Cunho” sinto o coração,
Que devido ao descuidado manuseio feminino
Em seu período de circulação,
Será entregue M.B.C;
E mesmo vítima de “cerceio” tendo sido,
Valor monetário e colecionístico
Incalculáveis ainda abriga!
Diante da colecionadora certa vejo-me,
E um preço para o antigo pingente
Não consigo estipular,
Pois como inestimável o avalio,
Então um presente de coração será
À pessoa que verdadeiramente o apreciará,
Valorizando e cuidando
Como se em seu próprio seio
Estivesse a ressoar!
Não estou vivendo um novo amor,
Mas um velho amor, amor antigo
– com cheiro de antiguidade!
ANIMA ANTIQUA MUSEUM
(Museu da Alma Antiga)
Sinto-me preso
Ao glamour das Belas Artes,
Então sinto a alma
Como um museu
Com o coração em exposição
Qual obra de arte a ser apreciada,
Admirada e cobiçada,
Mas apenas pela curadora tocada
– ninguém pode tocá-lo,
mas com sinceridade toca a todos!
Preservo valores antiquados,
Antigos, históricos e perdidos,
Mas belos, como a honra,
A honestidade, a fidelidade
E a sinceridade,
Além de um gosto pelo antigo
– mantenho tudo desenhado,
pincelado e cinzelado
em uma exposição de vanguarda!
Belas Artes exibe minha alma
Do clássico ao contemporâneo,
– expõe de forma um tanto confusa
minha própria História da Arte!
Com a emoção expresso
O Classicismo e sua reação
Contrária no Romantismo
De um tempo passado
De tradição e sobriedade!
Com minha razão o Impressionismo
E as vanguardas históricas expresso
De um tempo presente passional e emotivo
– de proporções futuras que renovam
as proporções épicas do Classicismo!
Com o equilíbrio e a racionalidade
Do Classicismo pensava,
Mas paixões e revoltas gritava
Nas sinuosas e largas
Pinceladas do Romantismo!
Minhas impressões
Acerca do mundo advêm
Das cores à luz do Sol
Em pequenas pinceladas soltas,
Compondo a ilusão de uma ótica
De sombras luminosas e coloridas,
E dessa forma impressiono com meu olhar
– pintura instantânea como a câmera
a capturar o momento em movimento!
Meus sentimentos expresso
Nas pinceladas espontâneas
E agressivas de uma paleta viva
Expressionista – por vezes abstrata!
Minha realidade vivo através
Das cores do Surrealismo,
Seja pela forma absurda e injusta
Com que é retratada por uma artista
Sem sensibilidade ou talento;
Seja pelos sonhos ingênuos
De um coração com esperança pintado!
Com Praxíteles, da Vinci,
Aleijadinho e Rodin
Aprendi a dar forma ao denso
Potencial em estado bruto!
Tiffany, Fouquet,
Masriera e Cartier
Me ensinaram a trabalhar
A nobreza dos metais
E a lapidar as gemas!
Em um lado meu coração vejo
No sal das lágrimas esculpido
Pela artesã sem sensibilidade ou talento
– cada lasca de dor
que seu cruel cinzel arrancou
o deixou fatalmente mais belo!
Essa peça histórica não aprecio,
Mas em meu museu a preservo
Sem para trás jamais olhar
– não serei estátua de sal –
E sem os olhos da artista fitar
– não serei estátua de pedra!
Em outro lado meu coração vejo
Em um pingente feito a mão
Por uma renomada designer
E artesã barroca com amor!
Com talento e sensibilidade
Essa magna artista ao ouro
Deu forma e nele as virtudes
– em mim lapidadas – do rubi,
Do indomável diamante, da safira,
Da bela esmeralda, da ametista,
Da água-marinha, da fatal granada
E do quartzo rosa cravejou!
Das inúmeras falsificações
E imitações é bem distinto,
Pois de uma joia antiga,
Autêntica e assinada se trata
– seu nome nunca saiu
da minha mente e do meu coração;
e sua valiosa assinatura um dia verei
em nossa aliança áurica!
Em um canto meu coração vejo,
No elétrico calor
Do âmbar báltico lapidado!
O eterno amor
Pela magna artista mantenho
Conservado nas profundezas
Dessa gema de milhões de anos;
E àquela falsa artesã
Que se compraz com minha dor,
Aprisionada mantenho próxima
À superfície como um inseto
– está na hora da verdadeira artista
com uma nova lapidação removê-la:
com amor se dá o restauro da gema!
VERNISSAGE
Alguém já sentiu uma imagem,
Uma cor ou as cores de uma pintura?
Já ouviu sua voz ou os pigmentos metálicos
Ressoando ao serem misturados
No coração da tinta?
Já ouviu o que o peculiar cheiro
De uma têmpera tem a dizer?
As batidas metálicas ouço
Do quadro em meu peito pintado
Com uma tinta que mistura
Pigmentos de óxido de ferro,
Hemoglobina e carmim
– daí sua forte tendência
a ser parasitado!
Nos ossos do peito tenho
O bastidor que minha pele estira
Para servir de alva tela
No lugar de vegetais fibras
– nas camadas mais profundas,
fibras de um tecido distinto guardo,
composto por fibras cardíacas
que bastidores tem sido
de um amor secreto e antigo!
Essa tela de trama fina,
Com meus delicados sentimentos tecida,
Pinceladas largas e sinuosas
Recebeu dessa grande pintora do Romantismo
Em um passado distante,
A essa tela dando vida
Com cores vivas e vibrantes!
Mas essa trama,
Convertida em trama grossa foi
Pelas tramas e pela dureza
De quem não sabe apreciar ou avaliar
– muito menos criar – arte
E simplesmente a tinta derrama sobre a tela
Como sangue espesso a escorrer
– apunhala meu peito!
Ela destrói o trabalho
Ardentemente pincelado
Com pelos de MARTA
Em variados padrões de cores quentes,
Compondo uma tela
Com traços de Romantismo
E alguns toques de Surrealismo
– era tudo muito onírico,
e falta sinto das tardes cálidas
em minha alcova clara!
Mas uma alma pintada
Com uma tinta que mistura
Os pigmentos púrpura tíria
E azul ultramarino
– por isso tão valiosa
quanto melancólica –
Não pode ser derrotada
Pelos atos de vandalismo
De uma mulher inábil,
Cruel e inconsequente!
A inspiração e o ânimo perdi;
E o único quadro de minha vida
Que pintei foi uma natureza-morta
– uma reprodução com absinto
em companhia de Van Gogh
nas noites mais sombrias,
para amargar e entorpecer
a insuportável sobriedade!
Assim sendo,
Minha amada artista devo trazer
De volta à galeria
– Marta é sua única
e verdadeira proprietária!
Quem melhor para restaurar
O quadro que a própria pintora?
Quem cuidará melhor da galeria?
A ela dei liberdade criativa,
E ao apreciar a conclusão do restauro,
Sinto aprimorada a obra
– do quadro mudou a perspectiva,
e as antigas fugantes já não vejo!
Totalmente renovado,
Pronto para exposição estou,
Muito diferente da obra de arte original
– todos apreciarão um novo quadro!
Expõem-me os versos,
Abrem-me, colocam-me
Em exibição para apreciação;
Permitem-me ser visto e sair das sombras
Nesse jogo de luz e sombras que é a vida
– até a dor transformo em arte!
Nessa galeria exponho
Minha arte e meu talento,
Mas assim como o quadro
Restaurado e renovado,
Necessita meu Poema
De alguns retoques
Antes de ser envernizado e exposto
– bem-vindos ao meu VERNISSAGE!
Meus amigos e todos aqueles
Que me apoiam estão convidados
A apreciarem com exclusividade
O que exibirei ao público em geral
Em seu devido tempo – em breve!
Acerca-se a reinauguração
De minha Galeria de Arte:
Entregue será minha alma para leitura
E o meu coração que ficava trancado,
Guardado e fora de exibição pública,
– fechado à visitação –
Estará exposto e à vista dos delineados,
Ávidos, belos e sedutores
Olhos femininos,
Que o verão sob o olhar cuidadoso
Da talentosa proprietária da galeria
– não creio que esteja disposta
a vender o rubro quadro!
A beleza de Marta chegará para decorar
Com elegância classicista;
Sua inteligência trará
Sofisticação e fascínio;
O charme de sua personalidade
Matizará estilos modernistas
E conquistará apreciadores;
Seu coração aquecerá o recinto
Com pinceladas românticas;
E sua alma – qual musa – trará,
Além de arte e fama,
A inspiração necessária
Para passar uma vida inteira
Realizado e afortunado ao seu lado
Em tardes e noites líricas
– cônscias ou oníricas –
Escrevendo Belas Artes!
Julia Lopez
17/08/2013
Obs.: por razões poéticas, propositalmente ignorei as regras ortográficas e utilizei a palavra composta “Belas-Artes” sem o hífen, para que pudesse utilizá-la de forma ambígua, podendo representar seu significado próprio ou o mesmo que “artes belas”. Tradicionalmente e de forma elitista, eram consideradas Belas-Artes as Artes Plásticas e a Arquitetura, mas com a modernização e popularização dessas formas de arte, o termo se estendeu às demais quando nestas podemos observar sofisticação e refinamento estilísticos, ou seja, via de regra continua não estando presente na arte popular. Adicionalmente, artes utilitárias como o Design de Joias e artes modernas como o Design de Moda foram incorporadas ao termo, sempre que apresentassem as características estilísticas apropriadas. Note que, em muitos poemas, transcrevo outras formas de arte para poemas, escrevendo Belas Artes – a inspiração para a criação do meu website!
Nota sobre a foto: Alegoria de “A Escultura”, de Gustav Klimt, pintada em 1889 (lápis aquarelado com realce dourado sobre cartão de 44 x 30 cm, em exposição no Österreichisches Meseum für Angewandte Kunst, em Viena. O artista gostava de utilizar materiais diferentes nas pinturas, como pó de ouro ou de prata).
Visitem meu Site do Escritor: http://www.escrevendobelasartes.com/