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VIII - A Iniciação.
Ao terminar de escavar certas letras
Do Alfabeto das Bruxas nas árvores,
Passo a escrevê-las em mim mesma
Pronunciando o seguinte encantamento:
“Escrevo meu nome
Nas árvores perdidas
Do bosque há gerações ungido
Pela escuridão lunar;
Teu nome, porém, escrevo
Com sangue íntimo entre os seios!
Meu nome ficará para sempre
Na memória das árvores;
O teu desaparecerá diluído
No sangue que meu ventre vomita:
Ao fim do ciclo purificador,
Nada mais de ti restará em minha intimidade;
Do calor que palpita em meu seio serás
Lavado essa noite em cristalinas águas
E diluído correrás para a imensidão do mar!
Nas águas salobras do meu desejo
Serás sepultado, navegando
Na barca Viking que acenderei
Com minha morte para ressuscitar
Sobre nossas cinzas, gloriosa
– imortal como a bela Fênix serei!
Este será o ultimo fogo que terás
Do meu seio e do meu ventre
– despede-te do amor e do desejo,
pois neles morrerás e para eles morto estarás!
Para a mulher que morre nessa clareira,
Serás o último homem de uma linhagem
Que escravizou a ela e às suas ancestrais;
O último homem que agrilhoou seu coração
E apenas uma sombra, um fantasma
Do passado da mulher que hoje nasce, renasce
– palavras perdidas em páginas esquecidas,
aprisionadas no meu Livro das Sombras
e arrancadas do meu Livro da Vida!”
Terminado o encantamento,
Ajoelho-me diante do riacho,
Sobre os seios cruzo os braços
No sígno da incógnita divina
E fecho os olhos, dizendo:
“Juro-te fidelidade, nobre coração;
Guardo-o selado e protegido com sangue!
Diante da Matriarca e de suas filhas
– minhas irmãs – juro fidelidade à antiga
E preclara tradição da Lua Negra!
Que a deusa me ilumine
Nas noites mais profundas,
E que me sangre
Em eterno eclipse
Ao trair meu coração,
Minhas irmãs e a Ordem!”
O ambiente cheira
A fogo e ferrugem
Ao terminar o antigo
E sagrado ritual
Do culto à parte oculta
Do Eterno Feminino
– ritual de cumplicidade
entre mãe e filha,
irmãs e amigas!
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Esse Poema é parte integrante do Poema "O RITUAL".