IN MEMORIAM: AD LUCEM!
Agnus Dei
O advento da luz Natalina
Pela graça do Espírito Santo
Ouviu do Arcanjo Miguel: Fiat Lux!
Esse advento me leva a pensar
Na anunciação do Anjo Gabriel
À Santíssima Virgem Maria,
E me traz à memória a imolação
Das crianças por Herodes
E a imolação do Cordeiro de Deus!
Não posso deixar de pensar
Nos sofrimentos de sua mãe
(Theotokos) e de tantas outras
Que perderam seus filhos
Sejam eles grandes ou pequenos,
Puros ou impuros, culpados
Ou inocentes – não somos os juízes!
Lembro de uma jovem
Que não era pequena,
Mas era pura e inocente,
Completando sua angelical
E rara beleza terrena!
Nesse momento escuto
O triste movimento Grave
Do Stabat Mater de Pergolesi
E posso até sentir as lágrimas
De dor dessas mães – para elas
O Stabat Mater Dolorosa é eterno,
Cruel, injusto e verdadeiro!
Essa obra sacra
De inestimável valor
Define o tom da obra
A qual passo a compor!
Lux Aeterna
Fiat Lux! A luciana
Criança advinda
Regozijo e ternura trouxe
Ao lar de uma sagrada família
Unida pelo amor, pelos laços
Do Espírito Santo, guarnecida
Com a palavra do Altíssimo!
A pequena luz cresceu
De forma tão esplendorosa
Que ao chegar sua forma
Humana à idade adulta,
Emanava extrema beleza,
Ternura e pureza, virtudes
A exalar junto ao perfume
De sua alva tez, sempre
Iluminada junto aos olhos
Profundos e amendoados
De fascinante inocência!
Era tão meiga que sua doçura
Transparecia em seu olhar
E em sua bela face a sorrir
De forma cativante, inspirando
A todo ser que tivesse a graça
De estar em sua presença!
Suas longas melenas
Como um véu de pureza
Admiração causavam
Quando caiam em iluminada
E castanha cascata ao inclinar-se
Graciosamente durante
Os preparativos para a todos
Encantar com seu canto,
Para iluminar o egrégio
Ministério da Música!
Seu Violão soava como a celestial Lira,
E sua doce voz aos presentes emudecia
Com o imortal canto de um Anjo de Luz!
Todos se sentiam enlevados,
Arrebatados, ou como se o Céu
À Terra tivesse enfim baixado,
E viam na Lira a lírica de Deus
– se entregavam à comoção
com o lirismo do momento!
Eu pensava em deuses esquecidos;
Via nela à Polímnia e a via como minha
Musa inspirando-me profundamente
Inspirando-me amor... Sinto sua presença
Até hoje – nesse momento me inspira,
E em lágrimas escrevo essa Elegia!
Não iluminava apenas ao próprio lar,
Mas a todo lugar onde se encontrava,
Pois era uma jovem de vontade
Santificada, elemento de união
Entre as pessoas à sua volta,
Luz para todos pela graça
Do Espírito Santo – de quem
havia recebido muitos dons –
E um foco de santidade na Terra,
Um poderoso foco de divina luz!
Todos a viam como a luz
Em humana forma, destinada
A trazer a santidade à Terra
Em atos de piedade e atos
De misericórdia – provas
de seu lugar garantido
no tão sonhado Paraíso –
E quando essa luz se apagou,
Enorme comoção causou,
E parecia que a esperança e a luz
Do mundo tinham se apagado,
Mas ainda se podia senti-la
Em orações ou na doce lembrança,
E podia ser vista nas estrelas à noite
Ou no sol durante o dia – no Céu!
Lacrimosa
Nunca entenderemos a razão
Pela qual uma linda missão
– de forma prematura e abrupta –
É fatalmente interrompida!
Nunca entenderemos a gadanha
Que em seu movimento rápido
E frio apaga a luz da vela alva!
Tantos sonhos que não se realizaram,
Tantos sonhos interrompidos, perdidos;
Tantas lágrimas de dor ao invés de alegria!
A caminho do conhecimento
E da realização profissional
Uma tétrica presença irrompe
E a linda jornada interrompe!
A adorável jovem não pôde
Viver seus ledos sonhos:
Aquele grande e antigo amor,
Aquela realização profissional,
A continuidade daquela missão
Religiosa e tão providencial...
Não viveu as alegrias do matrimônio,
As alegrias de ser mãe, de sentir a vida
Crescer, se mover e dentro de si palpitar!
Não viveu a emoção de sentir
Sua filha em um terno abraço,
De contemplá-la adormecida,
De sentir em seus finos lábios
O aroma do leite, de segurar
Suas mãozinhas para ajudá-la
Em seus primeiros passos,
De ver com satisfação
A satisfação dos avós e tias,
De acompanhá-la à primeira aula,
De vê-la crescer e passar
Pelas mesmas fases que passou,
De ver a si mesma na amada filha!
A mãe que deixou de ser
Torna maior a dor de sua mãe,
E para seus pais fica a sensação
De duas valiosas vidas perdidas:
Uma que se foi e outra que não
Teve a chance de ser – que seria!
Recordare
Para o Poeta fica a bela
Recordação distante
Dos seus olhos de menina,
Do olhar da criança pura
Que pôde ver a alma
De um pequeno menino
Ao contemplar seus olhos!
Lembro quando viu em minha alma
Sua outra metade, uma clara visão
Que seus três anos não entendiam,
Mas que a levaram a um inocente
E puro namoro de infância – seu
primeiro amor e o meu nos cinco
primeiros anos de minha vida!
Quando adulta, o reencontro:
Reconheci os mesmos olhos
Da terna menina de outrora,
E os senti desnudando-me
A alma ao fitar os meus,
Vendo-se nela refletida!
Senti a antiga chama reacender,
E ainda me lembro do calor e da luz;
Lembro do puro amor proibido,
Distante no espaço e no tempo
– gracejos do espaço-tempo!
Para o Poeta resta a indelével marca
E a recordação da jovem que sairia
Das terras de Nossa Senhora Aparecida
Para as terras da Virgem de Urkupiña
– são todas a mesma Theotokos,
então peço perdão ao leitor metodista
pelas poucas referências católicas –
Seguindo a voz do coração, em busca
Da felicidade e do amor que nutria!
Fica a ele a reconfortante sensação
Da constante presença daquela
Alma pura e iluminada que sempre
Do abismo o tiraria, chamando-o à razão,
Guiando-o à saída e levando-o ao Paraíso
– lembro-me do Poeta florentino guiado
por Virgílio a mando da alma pura de Beatriz!
O Poeta a vê como Musa,
Como a luz guia do mundo,
E crê que se apagou apenas
Aos nossos olhos mortais
(que só veem as ilusões mundanas),
Tendo apenas regressado à sua origem,
À fonte de toda a luz, ao Reino de Deus,
E lá intensamente brilha: FIAT LUX!
Julia Lopez
27/05/2013