SENSAÇÕES E PAISAGENS NOTURNAS: A PINTORA CONTEMPORÂNEA EM PINCELADAS MODERNISTAS (estilos sobrepostos em uma paisagem confusa)!
I – Primeiras Pinceladas: do Romantismo a uma Quebra de Estilo!
Em solidão a caminhar pelas pradarias
Perfumadas pelo doce frescor da primavera
Que à vegetação sopra em graciosa dança!
Minha pele nua e nívea como areia a formar
Curvilíneas dunas de sedução à paisagem
Traz aridez, mas o perfume que exala
Do meu denso arbusto cria o contraste
Fértil que aumenta a atmosfera excitante!
Céu negro e infértil para algodoeiras lavras,
Descampado, livre de impurezas, purificado,
Pronto para os ritos do amor, também desnudo,
Totalmente aberto à Selene luz da lua,
Que se recolheu em mensal luto
Pela cabal prova escarlate da vida
Que não se formou em seu ventre
– anseia sentir-se plena, cheia,
fecundada pela luz do Sol Hiperiônida
em fraternal romance rutilante!
O Céu frustrado sem o manto prata da Lua,
Decide decorar sua nudez com jóias fulgurantes,
Pintando a abobadada tela ao estilo pontilhista
Com tinta luminosa, na esperança de atrair
A deusa lunar com o espetáculo cintilante
– acende as luzes da megalópole estelante!
II – Subvertendo o Pontilhismo: Virando o Quadro de Cabeça para Baixo (brincando com as leis newtonianas)!
Perco-me nos contos das constelações,
Nas cartas marítimas do céu,
Na observação dos encantos siderais,
Na magia de deuses distantes,
Quando vejo uma estrela cintilar
Com mais desejo e vigor,
E se desprender qual fruto maduro
Do grande pomar cósmico
– como a lendária maçã de Newton,
vencida pela gravidade indeclinável
que uma natureza-morta me inspira!
A contrariar todas as leis
Da natureza, veloz chega
Ao campo qual gota de luz
Com rastro fugaz e breve
– como gota de chuva –
E explode na relva, se esparrama,
Ao revés escorre e se aglutina
Em um ponto de luz
Que recolho com as mãos
– depois de um tempo a observar
insólita à cena, aproximando-me
com cautela e estranheza!
Enquanto aprecio desconcertada
Minhas belas unhas pintadas
Com azul-celeste cintilante,
Assusto-me com o clarão
De outra gota a cair e para o céu olho:
Mais estrelas passam a cintilar
Como bailarinas e a cair,
Começando uma chuva de estrelas,
Um banho de luz a inundar
O campo e ao solo pintar
Com grandes pontos de luz
– nova pintura pontilhista!
Sinto a luz líquida em tinta a escorrer
Pela minha abundante cabeleira negra,
A dar um banho de brilho que tinge
De louro luz e as mechas acende!
Sinto-a resvalar por minha aveludada tez
Qual lágrimas, molhando o pescoço;
Sinto-a envolver meus seios
Para gotejar pelos mamilos – Via Láctea?
Sinto-a inundar meu umbigo
Para transbordar na relva densa
E desaparecer em solo fértil – dará a luz?
Sinto-a minar em enxurradas pelas coxas
– como aquela ferrugem vermelha que desce –
Para aglutinar em luzidia e sensual tornozeleira!
Uma a uma se apagam as estrelas do céu,
Que aos poucos mergulha em trevas profundas,
Mas as poças de luz se aglutinam em pontos
No campo cada vez mais cheio e molhado
E espalham um fulgor ofuscante e mágico
Que escorre no escuro e a tudo permeia!
III – O Estilo Definitivo se Revela: Exagerando e Transcendendo o Pontilhismo (ao reinterpretar uma obra de arte do Classicismo)!
Fecho os olhos devido à luz intensa,
E ao levantar os longos cílios vejo
Meu corpo a pairar na órbita do orbe,
E todas as estrelas caídas na Terra
Qual luzes de urbanização noturna
– desaba a abóbada estrelada!
Vejo-a em pinceladas pontilhistas
De tons luminosos na tela telúrica,
A dar moderna interpretação
A uma clássica obra de arte
Pintada pelo Caos grego!
Então olho para o lado e vejo a pairar
Sobre a curvatura uma besta descomunal,
Um Leviatã que pode a Terra abraçar
Com seus robustos e longos tentáculos
– mais se assemelha ao temível Kraken!
Pensei tratar-se de um castigo dos deuses,
Da destruição do mundo, mas a besta sopra
Delicadamente as luzes, que são lançadas
Novamente ao espaço como pó de estrelas,
Ou como glitter lançado sobre a tinta fresca,
Voltando a compor a pintura original
– vejo o planeta em apagão geral!
Ouço os gritos das miríades de almas
Apavoradas e penso novamente no fim,
Mas o Leviatã afasta-se ao cortar as ondas
Formadas pela curvatura do espaço-tempo
Rumo ao infinito, e então percebo
Que de pintura surrealista se tratava
E me questiono em que estranho lugar
No espaço e no tempo me encontrava!
IV – Últimas Pinceladas: do Surrealismo ao Realismo Circundante!
Olho para o meu corpo despido
Dos sociais tecidos, em posição fetal,
E percebo um prateado e esticado fio
Que dele se projeta, tão longo
A perder-se nos abismos da Terra
Qual cordão umbilical
Preso ao útero de Gaia!
Toco o esticado e prateado cordão
E imediatamente sinto a leveza
Repentina do corpo em queda livre,
Com o fio a encolher e me puxar!
Antes de me terrificar
Com o solo a se aproximar,
Desperto molhada no amplo leito,
Com o lençol pregado ao corpo nu
E assustado, ardente e excitado
– apto a deitar-se em freudiano divã!
Aliviada decido pintar maravilhada
Esse sonho por toda a madrugada
– divina inspiração a quebrantar
o desastroso bloqueio criativo –
Inserindo a mim mesma nua
E em estado de vigília
A finalizar o belo quadro
– cabe um nu artístico? –
Onde reproduzo fielmente
As mudanças de estilo
Que se sobrepõe na onírica experiência,
Dando como última pincelada
Essa última palavra!
Julia Lopez
17/03/2013
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