SENSAÇÕES E PAISAGENS NOTURNAS: MOMENTO IDÍLICO.
1ª TELA: Sob a Ótica de um Pintor Pós-Impressionista
(ao exagerar a impossível visão impressionista sobre a noturna luz solar indireta – reflexão luminosa da Lua sobre a natureza)
Noite.
Manto de fibras frutais alvacentas
Desabrochadas em nuvens florais
Para a tecelagem de homens e máquinas
– com destreza aracnídea!
Vegetais tecidos e costurados pelo homem
A cobrirem a vegetação rasteira
Em seu estado natural
– estado de relva capilar
sobre a pele espessa e áspera
do planalto penhasco!
Estendido sobre tão delicado manto,
Contemplo a arte abstrata no desenho das nuvens
Pintadas com a platinada tinta lunar
– formada de pigmentos de prata,
platina, cromo e ouro solar!
Ao longe ondas sonoras
De ondas de Tesla advindas
– não de Marconi –
A programação local transmitem
Para algum receptor de alguma habitação,
E logo da Sereia
O belo e doce canto a navegar
Pelas invisíveis ondas passo a escutar!
Pelo canto embalado,
À lassidão me entrego ao deitar
As pálpebras para me deliciar com o mar
Ao soprar com ternura
Na ambiência ardente e perfumada
Com notas frutais e florais de verão,
Sua benfazeja brisa salobra
– contraste agradável de cores quentes
e frias na tela das sensações!
O corpo leve a se confundir com o ar
Insinua deleites oníricos,
Prematuramente interrompidos
Pelo distante som de um navio!
Ao me sentar,
Um grande transatlântico avisto
Quase a se mesclar com o encontro
Do celeste azul marinho em milhas e milhas
De náuticas distâncias,
E suas luzes a singrar o mar
Suavemente passo a contemplar!
O imaginário a se perder
Em amores e desamores,
Festas, conversas, labores...
Toda a fortuna de passageiros e tripulação
Ao cruzarem o oceano de sonhos e desejos!
Por todo o frescor do momento envolto,
Passo a apreciar o luminoso orbe a dançar
Coruscante sobre o marinho espelho
Qual sinuosa havaiana ao ritmo
Do aprazível som das vagas
Ao quebrantar de rochas
Em bancos de areia temporal
– antiga e lendária contenda
entre Cronos e o Crônida!
Com o tempo em salmoura a se diluir,
Avança o mar em seu romântico diálogo
Com o atraente luzeiro,
Sentindo-se cada vez mais inchado
E atraído por seus irresistíveis fascínios!
Imerso nesse espetáculo,
Mar passo a me sentir
E disso se aproveita a ardilosa Lua
Ao me atrair qual maré
E a me guiar qual ofuscante farol
Pelos mares de saudades,
Solidão e tristezas,
Apontando em minha carta íntima
De navegação o ponto de localização
Dos arquipélagos de recordações,
Levando-me qual presa ferida a rastejar
Até a beira do penhasco a fim de olhar
O terrível quebrar das ondas
Como lágrimas a inundarem e aos poucos
Meu coração petrificado fracionarem!
Do navio distante um novo soar
E do hipnótico transe lunar desperto
– oportunamente, como a me vigiar!
Ao meu idílico momento volto:
As luzes do navio em sua aparente inércia
E o encantamento pelo quadro rico
Em sensações e emoções
No qual sou levemente retratado!
A me deitar volto e passo a reproduzir
Toda essa viva pintura
Em minha tela mental
Como um Pintor impressionista
– ainda que noite –
A capturar a cena em movimento
Qual instantâneo fotográfico,
Pintando o som do distante navio,
Da canção diluída no espaço e no tempo,
Da brisa querida... das lamúrias do mar!
De novo lassidão,
Pálpebras densas,
Respiração lenta, torpor...
E adormece o idílico momento
– escapa-me à lembrança
a última pincelada: obra inacabada!
2ª TELA: Sob a Ótica de um Pintor do Romantismo.
(ao se afastar dos temas sublimes para se dedicar a um tema singelo e de singular beleza)
Sobre a relva do planalto penhasco,
Em um manto estendido contemplo deitado
O desenho prateado das nuvens em arte abstrata
Na clara e noturna veraneia tela!
Da programação local ao longe
O som da rádio ouço vir d’alguma residência;
Uma bela canção a doce e feminina voz
Passa a entoar e ao cansaço me entrego:
As pálpebras deito e me deleito
Com a brisa salobra do mar a contrastar
Com o ar quente e perfumado da estação
– é Zéfiro soprando-me com dadivosa ternura!
Quando já sentia o corpo leve
Com o ar a se confundir,
Despertado sou pelo distante som
Da buzina de um navio!
As luzes de um grande transatlântico,
Muito, muito distante,
Quase a se mesclar com o encontro
Do celeste azul marinho
Ao singrar suavemente o mar,
Sentado passo a contemplar!
Perco-me a imaginar os amores
E desamores dos passageiros,
As conversas, as festas,
A tripulação e seus labores...
Toda a fortuna ao cruzar
O oceano de sonhos e prazeres!
Sentindo toda a refrescância do momento,
Passo a apreciar o luminoso orbe a dançar
Cintilante sobre o semblante mar,
Qual sinuosa havaiana ao ritmo
Do agradável som das ondas a quebrar
As rochas nas areias do tempo!
Passa a me atrair o melancólico luzeiro
Qual maré e a me guiar como um farol
Pelos mares de saudades, solidão e tristezas,
Levando-me a recordações ilhadas
Que me fazem rastejar até a beira do penhasco
Para olhar o quebrar das ondas como lágrimas
A inundarem e aos poucos partirem
Meu coração petrificado!
Puxa o melancólico luzeiro
As águas-marinhas de meus olhos verde-mar,
Que marejados em maré alta
Não se contém ao transbordar
E o volume da canção das ondas
– triste Fado – aumentar!
Com meus olhos e os do mar
Quase a se encontrarem em perigosa diluição
A fim de nele e na dor me perder,
Ouço a buzina distante,
Cuidadosa a dialogar comigo,
E novamente olho para o navio
Em sua aparente inércia ao longe,
Voltando a me encantar jubiloso
Com a grandeza circundante!
Com essa riqueza de sensações e emoções,
Declino ao convite da Lua ao me deitar novamente
Sobre o manto a fim de reproduzir
Essa viva pintura em movimento
Na tela da mente com pinceladas largas e sinuosas
Ao som do distante navio,
Da canção diluída no espaço e no tempo,
Da brisa afável e das lamentações marinhas!
De novo cansaço,
Pálpebras pesadas,
Respiração arrastada, sonolência...
E adormece o idílico momento
– escapa-me à lembrança
a última imagem pintada
nessa obra inacabada!
Julia Lopez
01/03/2013
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