A ESFINGE
Disse-me a Rosa dos jardins
Do glorioso palácio de Tebas:
– O amor é realmente
Uma grande incógnita:
Ou o deciframos
Ou nos devora!
Então a ela pergunto
Se era o amor como
A terrível Esfinge de outrora,
Ao que responde de forma afirmativa
Com o silêncio do suave movimento
De suas aveludadas pétalas,
Dispostas em um maravilhoso arranjo floral
Qual elegante e sedutor coque trançado
De uma altiva divindade helênica.
Contristado, digo à Rainha das Flores:
– Então decifrado jamais deverá ser,
Pois a si próprio devorará;
Em chamas rapidamente se consumirá
E toda a esperança se esvairá!
Não foi feito para ser decifrado, estudado;
Foi feito para ser sentido, vivido!
Profere a Flor do Pecado
A seguinte sentença de morte:
– Então devorado serás
E morto estarás para ti mesmo,
Perdido em teu Hades de amarguras!
Fitando o tremeluzir lunar de seus olhos
Marejados de néctar, exclamo à terna flor:
– Então devora-me, amor; devora-me
Com fúria, com paixão, como se todo
O meu existir esse único instante fosse!
Em chamas prefiro ser consumido
A passar a vida com o coração morto
Em um elegante esquife de gelo!
Com o néctar a resvalar
As maçãs do sedoso
E entristecido semblante,
Diz a doce e floral Rainha:
– Teus prantos ouvirei
Do Hades de tua dor
E nada poderei fazer,
Pois na escuridão não floresço
E forças dela não extraio!
Toda esperança é abandonada
Ao adentrar nos domínios
Do Polidegmon, bom amigo,
E lá apenas terás o desespero,
A melancolia e o esquecimento!
Ao afagar sua terna face,
Na maçã direita deposito
O ósculo mais afável e puro
Que uma alma poderia oferecer!
Com os lábios ainda mergulhados
No amor diluído em néctar
– mais doce que célicas
lágrimas de verão –
Sussurro calorosamente
Em seu delicado ouvido:
– Como a lúgubre Rainha da Morte estas a falar, mas
As palavras da esfuziante Rainha do Amor quero ouvir!
Teu coração apazígua, doce amiga!
Aqueles que ao amor entregam-se heroicamente
E devorados são por ele, como semideuses
O Hades visitam sem que alcance seus corações
A morte com seu toque de cianureto!
Em chamas e cheios de vida guardam
Seus corações o entusiasmo e as forças
Que a impulsionam: coragem, sonhos e esperanças!
Perdido estarei, mas a saída com minha luz hei de encontrar!
A senda do amor é a senda do fio da navalha – tu o sabes!
Perigosamente viverei – os riscos assumo com paixão!
Este mito cantarei e ressoarão meus versos
Pela eternidade e pelas profundezas da terra!
As almas guiarei como um archote até os portões
E novamente o sol, a lua e as estrelas veremos
Em romântica ressurreição – não farei
Como Perséfone: da venérea romã apenas quero
O singelo e profundo simbolismo do amor!
Julia Lopez
04/02/2013
Foto: Esfinge de bronze na entrada do Museu Arqueológico Nacional da Espanha, em Madrid, feita pelo Escultor Felipe Moratilla y Parreto (1823–?) em 1892.
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