PRESENTE À GREGA
És ópio, e de ópio viciei-me!
És a corrupção da flor
Que os antigos gregos
A Esculápio consagraram
No altar da medicina!
Corrompes a benevolência,
A beleza e a inocência
Que a Mãe Natura
Com amor e ternura
A todos – sem distinção – regala!
És o castigo dos deuses
Aos “comedores de pão”
Por desfrutarem de dádivas iméritas,
Frutos de titânica traição!
És o modelo grego de Pandora
– com uma coroa de papoulas adornada –
Por Vulcano e Minerva criada
Sob as ordens do Tonante
Para entorpecer e castigar aos homens!
Os deuses tornaram-te irresistível
E de cada um virtudes recebeste,
Mas ignoraste esses presentes
E preferiste os de Mercúrio:
A mentira e a perfídia para cumprir
Dos Sempiternos os cruéis desígnios!
És a insídia meticulosamente desenhada
Para aos homens prover infelicidade
Ou uma falsa felicidade – engodo!
Abriste o terrível jarro
– vulgarmente chamado de caixa –
E a desdita está feita,
Não pode ser desfeita
– todos os males irremediáveis!
És a ilusão de esperança disfarçada
– que na escuridão do jarro jaz encerrada –
Para aos homens cruelmente ludibriar
E a uma falsa felicidade agrilhoar!
Não mais iludir-me-ei
Com teus lábios de mel
E teu ópio perfume:
Ao chão atiro o jarro
E a (falsa) esperança se esvai,
Desvanece, evapora
– à grandiosa morada
olímpica retorna!
E diante do teu olhar perplexo,
Ó mulher Pandora, dou-te as espáduas
E parto em busca da lucidez da plena Lua
Na face ninfeia da pura dama
– com uma coroa de Amarílis adornada –
Protegida pela deusa cíntia,
Que o crescente lunar retesa
E os impuros à lua nova leva
Com seta argêntea e minguante,
Pois não serei tolo como os troianos
– de Ulisses dispenso o ardil –
E muito menos tolo como Epimeteu
– de Jove dispenso o insidioso regalo!
Julia Lopez
05/12/2012
Foto: Eva Prima Pandora, de Jean Cousin, o Velho (1550).
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