ESPÍRITOS: APARIÇÕES NATALINAS!
Cintilar intermitente a iluminar;
Sinos a ressoar na Catedral;
Harpas e arpejos de Natal;
Ornamentos para a todos fascinar!
Fascinar a todos que podem gastar, comprar
Burgueses ou consumidores – consumismo? –
Uma pequena parte da população a desfrutar
De dádivas, bênçãos, alegrias e altruísmo!
Altruísmo? Certamente não – isso é sacrilégio –
Quando em meio a champanhes e vinhos finos,
Lembram-se apenas do menino Jesus egrégio
– se lembrarem! – e de seus próprios meninos!
Esta minoria fala do Espírito Natalino cristão,
Um espírito de equidade, amor e fraternidade;
Mas esse espírito de tais atributos certamente carece,
Pois apenas regala a essa parcela da população,
Enquanto que à maior parte da humanidade,
Ao negar-lhe o mais básico para sobreviver, lhe arrefece!
Arrefecer é quase um eufemismo ao falar
De sofrimento e miséria; ao falar de uma legião
De homens, crianças e mulheres a chorar
Desabrigados, feridos, doentes ou em inanição!
Sem eufemismos: falamos da banalizada MORTE
Precedida de dor e sofrimento inimaginados;
De seres oprimidos, brutalizados, torturados
Ou marginalizados – abandonados à própria sorte!
Sem eufemismos, mas em metáforas, por que não?
Por que não a linguagem tão bela da Poesia?
Só por causa da gravidade do assunto em questão?
Vamos romper o véu enfumaçado da hipocrisia!
Esta legião miserável de filhos de Deus,
Por ele tão cruelmente esquecidos,
Não são tratados como um dos seus
– não são seus privilegiados protegidos!
Parece-me desumano – um desatino –
Privilegiar a uma minoria afortunada
E negligenciar uma legião necessitada
– se desumano for, poderá ser divino?
Qual é o verdadeiro Cristo? O Cristo dessa minoria
Ou o Cristo da legião de necessitados, miseráveis,
Oprimidos e famintos? Em qual você acreditaria?
Em meio à agonia, blasfema em diluído sal a legião:
“Onde estais, Senhor, quando de vós necessitamos?
Onde estão as legiões de vossos Anjos de proteção?”
Prostrados, em marasmo ou a perambular vagarosos
Por aqui, ali e acolá; lúgubres a vagar – vagabundos? –
Errantes, erráticos, sem esperanças e pesarosos,
Vivem como mortos-vivos – seres entre dois mundos!
Por vezes são tão leves, translúcidos e rarefeitos
Que mais se assemelham a tétricos espectros;
Que nem logram espantar a minoria de eleitos
Seres humanos – ou desumanos? – patéticos!
Do benévolo Espírito Natalino falam esses poucos eleitos?
Falam de Deus, Deus menino, ternos anjinhos e Messias?
O único espírito conhecido pelos espectros e putrefeitos
É o Anjo da Morte – aquele que porá fim aos seus dias!
Como túnica esvoaçante a negra mortalha;
Para a colheita de almas a afiadíssima gadanha!
Com seu hálito gélido e aterrador espalha
Um sopro fétido de morte que à alma apanha!
Este anjo fúnebre traz aos injustiçados
A tão almejada e sempre tardia equidade,
Pois a todos recebe com a imparcialidade
De seus amargos abraços amortiçados!
E com benevolência trata a todos, pois não os livra do mal
Como em cristãs orações, mas os livra do sofrimento
Como nas dolorosas súplicas, em meio à dor e ao tormento!
Quisera da Morte não mais falar
E voltar a falar do célebre rebento,
De seu celebrado e sacro nascimento,
Mas posso as outras crianças olvidar?
Não, não posso e não o farei jamais!
Há alguma infância para uma criança
Quando tudo lhe é roubado? E mais:
Em marasmo, resta ao menos esperança?
Não, não resta! Se tudo lhes é negado desde cedo
Pelo Deus menino, como saúde, abrigo, alimentação
E segurança! Infância, alegria, bem-estar e brinquedo
São luxo – um capricho a ser ignorado pelo bom cristão!
A vida do pinheiro em verde neve pela pétrea frialdade;
Os vítreos enfeites no estilhaçar da nevasca cintilante
A ressoar em sintonia com os sinos da natalícia igualdade:
É a gadanha do tétrico anjo a ceifar um pobre infante!
Os luzeiros festivos se apagam – mais uma estrela se apaga
Coberta pela negra mortalha da indesejada eternidade!
A mãe em desespero fita os olhos do filho, o cobre e o afaga,
Enquanto vê o esvair do brilho – essa é a divina caridade!
Um Feliz Natal aos afortunados vivos
– que aos mortos-vivos apenas aludem –
E aos pobres e esquecidos mortos-vivos
– que os egocêntricos vivos os ajudem!!!
Julia Lopez
23/12/2012
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